Luta de uma mãe

Patrícia Pilar viveu Zuzu no cinema

Nascida na cidade de Curvelo, Minas Gerais, Zuleika Curvelo mudou-se quando criança para Belo Horizonte, onde começou a costurar e criar modelos, fazendo roupas para as primas, mudando-se depois para a Bahia, onde passou a juventude. A cultura e cores desse estado influenciaram significativamente o estilo das suas criações. Pioneira na moda brasileira, fez sucesso com seu estilo em todo o mundo, principalmente nos Estados Unidos.  Nos anos 1940, Zuzu conheceu o americano Norman Angel Jones, com quem se casou em 1947. Após alguns anos juntos, foram para o Rio de Janeiro, mudando-se depois para Salvador, onde ela morou muitos anos. Lá, Zuzu engravidou e deu à luz seu filho, chamado Stuart Edgar. Na virada dos anos 60 para os anos 70, ele, então estudante de economia, passou a integrar as organizações que combatiam a ditadura militar no Brasil, instaurada em 1964, filiando-se ao MR-8, grupo guerrilheiro de ideologia socialista do Rio de Janeiro. Preso em 14 de abril de 1971, Stuart foi torturado e morto pelo Centro de Informações da Aeronáutica no aeroporto do Galeão e dado como desaparecido pelas autoridades.

A partir daí, sua mãe entraria em uma guerra contra o regime pela recuperação do corpo. Como estilista, ela criou uma coleção estampada com manchas vermelhas, pássaros engaiolados e motivos bélicos. O anjo, ferido e amordaçado em suas estampas, tornou-se também o símbolo do filho. A busca pelas explicações e pelos culpados só terminou com sua morte, ocorrida na madrugada de 14 de abril de 1976, num acidente de carro na Estrada da Gávea, à saída do Túnel Dois Irmãos, Rio de Janeiro, hoje batizado com seu nome. O carro dirigido por ela, um Karmann Ghia, derrapou e saiu da pista, chocou-se contra a mureta de proteção, capotando e caindo na estrada abaixo, matando-a instantaneamente. Uma semana antes, Zuzu deixara na casa de Chico Buarque de Hollanda um documento que deveria ser publicado caso algo lhe acontecesse, em que escreveu “se eu aparecer morta, por acidente ou outro meio, terá sido obra dos assassinos do meu amado filho”.

Em 1998, a Comissão Especial dos Desaparecidos Políticos julgou o caso sob número de processo 237/96 e reconheceu o regime militar como responsável pela morte da estilista. Também na vigência do estado democrático, a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos – Direito à Memória e à Verdade, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, publicou depoimentos de duas testemunhas oculares do acidente, que afirmaram ter visto o carro do Zuzu sendo fechado por outro e jogado fora da pista, caindo de uma altura de cerca de cinco metros.